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NADIA PIZZO
Nádia cresceu em Bussana Vecchia, na Ligúria, que ela descreve como um pedacinho de terra entre o mar e a montanha, onde não há planícies e os vilarejos brotam entre as pequenas faixas de terra criadas há tempos, com pedras. Os pais, que chegaram a ter na cidade uma fábrica de casquinhas para sorvete, haviam vendido o negócio para se dedicar à agricultura familiar que tanto amavam. Gostavam de viver para o essencial. Tinham duas pequenas hortas, um terreno com algumas vinhas e um outro com cerca de 100 oliveiras. Faziam vinho e azeite, que vendiam sem rótulo aos vizinhos e conhecidos que batiam à porta ao final do dia. No vilarejo, as pessoas sabem quem faz um bom produto.
Compravam muito pouco. Tinham galinhas e coelhos, conheciam o pescador, limpavam o peixe no mar, adoravam as sardinhas, com que a mãe fazia sempre sardinara. Do pequeno mercado, traziam carne, que era de fazendas conhecidas, queijo e pão clássico. A maior parte do que comiam vinha das duas pequenas hortas que os pais cultivavam todo final de tarde, enquanto ela e a irmã corriam entre os pés de cereja, pêssego e amarena e brincavam com as filhas dos vizinhos.
Na casa, comida era sempre o assunto principal. Acabava o almoço e já estavam pensando no que fazer para o jantar. No vilarejo não tinha restaurante. Nádia conta que cozinhar era tão parte de sua rotina que não imaginava que poderia ser uma profissão. Assim que, aos 18 anos, saiu de casa para fazer faculdade de moda no Instituto Marongoni, em Milão. Foi pouco depois de formada que conheceu um estudante brasileiro de fotografia e, em 15 dias, mudou-se para o Brasil. Trabalhou alguns anos como estilista, gostava da parte criativa, mas sentia falta da simplicidade e da essência da vida com que tinha crescido. Após alguns anos de dedicação integral às filhas e muita comida gostosa em casa, Nádia começou a dar aulas de cozinha para jovens no Instituto Acaia. E assim conheceu Liane, fundadora e à época cozinheira -chefe do Ráscal, ambas professoras. Após muitos anos desenvolvendo nossas receitas-ícone, como o ravióli Ráscal ou a torta de maçã, Liane buscava alguém que pudesse trazer novidades, mas sem perder a essência da cozinha de campo, que valoriza o bom ingrediente, que sempre a norteou.
Foi um encontro de almas.